sábado, 29 de novembro de 2003

A tradi§Ã£o jA nÃo E' o que era

Ha certas tradicoes que se andam a perder com a profissionaliza§Ão dos servicos. Uma delas e' a cuscuvilhice (escreve-se assim?) no cabeleireiro e na mercearia. Hoje em dia, com a extin§Ão das mercearias e cabeleireiros de bairro, perde-se aquela que era a segunda maior tradi§Ão portuguesa. A primeira e', claro esta', a morte do touro em Barrancos. Hoje em dia, se nos deslocarmos a um cabeleireiro que se situe numa grande superfície comercial, os empregados na£o esta£o dentro da vida de toda a gente. NÃo sabem quantas vezes e' que o Manecas traiu a Maria. E' uma tradi§Ão que se esta' a perder! Claro que ja' nem falo da cada vez maior utiliza§Ão do hiper-mercado por parte do fregues. E' ­ai© que a frieza profissional se nota. Se enquanto que no cabeleireiro moderno, os empregados ainda sabem a vida do princi­pe Carlos, num hiper-mercado nem isso! Ora, a questÃo e' esta: «O Que fazer para que as tradi§oes se mantenham, sem que se pare a evolu§Ão natural dos servi§os?». Como esta' muito em moda o servi§o publico, o ErgonomicBlog propoe-se a resolver uma das questoes de maior irreverencia alguma vez colocadas na blogosfera. Vamos por partes. Primeiro de tudo, ha que estabelecer prioridades. A tradi§Ão e' mais importante que a evolu§Ão? Sim, pois, como se pode verificar no caso de barrancos, a tradi§Ão foi sempre superiorizada em rela§Ão a evolu§Ão. A partir daqui, ja estabelecemos prioridades. Se para manter a tradi§Ão for necessario parar a evolu§Ão, assim sera. Agora a solu§Ão em si.
A solu§Ão para este flagelo passa por uma rapida interven§Ão das autoridades locais no problema. E' necessário motivar os empregados dos cabeleireiros para a conversa e para a curiorisidade. Para isto, existem varias possibilidades. A de maior eficacia, passa pelo despedimento dos empregados jovens, e pela contrata§Ão de profissionais, com idades nunca inferioreis a cinquenta anos. E' certo e sabido que a partir dos cinquenta, a curiosidade pela vida alheia aumenta. Outra medida possivel e' colocar apenas pessoas do sexo feminino a trabalhar. E' cientifíco que as mulheres teªm uma maior aptidÃo para a vida alheia do que os homens. Tambem se sabe que as mulheres sÃo mais dadas a conversa. Os homens costumam adormecer. Logo o ideal seria contratar apenas empregadas com idades compreendidas entre os 50 e os 70 anos. Depois dos 70 anos, as pessoas tremem muito e aumentam os riscos de acidentes no local de trabalho. Outra das solu§oes para aumentar a conversa sobre vida alheia nos cabeleireiros, e' a mudança de clientela. Se os clientes forem pessoas da cidade, pessoas atarefadas, pessoas de dinheiro, a conversa nÃo da para muito. (O maximo que se pode e' falar do tempo ou do efeito economico-social das pegadas de dinossauro. Assim, assuntos interessantes.) Logo, e' necessario criar transportes adequados para que as pessoas do campo, pessoas com tempo, sem muito dinheiro, possam ir ao cabeleireiro nas grandes superfi­cies comerciais. Estas pessoas sabem da vida de toda a gente e na£o teªm problemas em partilhar ideias e opinioes com quem lhes corta o cabelo, com quem lhes mete gasolina na carro§a, com o cÃo, com as galinhas...voces percebem a ideia. Logo, se houver transportes adequados do campo para a cidade, estas pessoas nÃo hesitarÃo em ir a cidade cortar o cabelo, arranjar as unhas, tudo e mais alguma coisa. A proxima hipotese ja requer mais fundos e for§a de vontade. Seria possi­vel cirar uma taxa de apoio aà curiosidade nacional. Assim, todos os profissionais de um cabeleireiro que contribuissem para a divulga§Ão da vida alheia, receberiam uma taxa, que poderia equivaler, pronto, sejamos generosos (afinal e' em nome da tradi§Ão nacional) a 0,5% sobre o ordenado. Alem disso, os cabeleireiros mais fieis a esta tradi§Ão poderiam ser recompensados com um aumento anual de 0,75%. Outra medida a tomar, poderia ser uma redu§Ão no pre§o a pagar, aos clientes que divulgassem pormenores da vida de outros. Uma redu§Ão de 50% digamos.
Uma solu§Ão, esta mais radical, passava pela interven§Ão directa e motivada de muita gente. Seria bom, construir uma grande superfície comercial no campo, pois e' ai­ que a clientela sabe da vida de toda a gente. Claro que para isto, seria necessario um forte investimento monetário, alem de um grande grupo de pessoas interessadas na recupera§Ão da tradi§ao portuguesa.
Deixo aqui as ideias, agora e' preciso que algum senhor ministro se lembre de pegar nisto e transformar este meu sonho em realidade.

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