terça-feira, 1 de junho de 2004

O texto da fome

Saí do autocarro enquanto sentia no ar um cheiro de salgadinhos que me dava a volta ao estômago. Olhei de relance para o transporte e vi os seus Donuts rodarem em direcção ao cimo do monte. Caminhei pelo chão como se fosse um pão seco e ressequido de duas semanas. O cheiro a salgadinhos persistia no ar enquanto uma brisa de temperatura de sopa me atravessou os cabelos. Ouvi o ultimo ronco esfomeado do autocarro em direcção ao cimo do castelo de claras. Continuei a caminhar passando pela casa cor de salsicha e notei que o fumo espesso que saía da chaminé desta indicava uma fritura lá dentro. Pelo cheiro seriam batatas e ovo. A minha caminhada não cessou e passei por uma rotunda que lembrava um Crispy McBacon perfeito, com pedaços de molho a escorrer e o queijo baço a exibir-se. Passou um carro cor de salmão e lançou um cheiro a salmão fumado. As minhas sapatilhas faziam o som de um ovo a ser partido e os meus pés assavam dentro destas. Um cão ladrou alto pedindo comida ao seu dono e este atirou-lhe um pedaço de fiambre. Um pássaro voou sobre um ninho de cucos com uma minhoca na boca para a comer daí a minutos ou quem sabe, segundos. O barulho das obras era tal e qual o barulho da cortadora eléctrica ao cortar pedaços suculentos de perú recheado. Entrei em casa e a minha cadela saudou-me com um osso gigante na boca. Pisei um galho que imitou uma batata frita a ser trincada com vontade.

Conclusão: Estava a morrer de fome.

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